VIA SACRA
ORAÇÃO INICIAL
“Sem Mim nada podeis fazer” (Jo 15,5).
Ó meu Jesus, sem Vós nada posso fazer, meus méritos são nulos; minha inteligência, turva; minha vontade, enferma; meus sentimentos, enlouquecidos.
“Tudo posso nAquele que me conforta” (Fl 4,13), em união convosco, sou capaz das mais ousadas virtudes, minha alma voa. Vós sois a fonte de todo o bem existente em mim.
Preparo-me neste instante para acompanhar-Vos em Vossa Via Sacra. Nela eu Vos encontrarei chagado, sem forças e ensangüentado: “Eu, porém, sou um verme, não sou homem, o opróbrio de todos e a abjeção da plebe” (Sl 21,7). Forte expressão usa a Escritura ao referir-se à Vossa Paixão. “Transpassaram minhas mãos e meus pés: poderia contar todos os meus ossos” (Sl 21,17-18). Muito diferente está Vossa Divina figura dAquela que os Apóstolos contemplaram no Tabor, ou caminhando sobre as águas, ou curando os enfermos. Nessa divina tragédia verei estampada a feiúra e a maldade de meus pecados. A enorme quantidade de minhas faltas me confundirá de começo ao fim. Vós Vos tornastes um verme, foi possível contar Vossos ossos, morrestes por causa de meus pecados. “Ó vós todos, que passais pelo caminho: olhai e julgai se existe dor igual à dor que me atormenta” (Lam 1, 12).
Ah! Senhor Jesus, perdão! Começo por Vos pedir perdão por tanta miséria e pela enorme culpa que tenho em Vossos tormentos!
Por outro lado, Vós me convidais neste ato a seguir os Vossos passos: “Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de Mim” (Mt 10,38).
Senhor! Quero não só ser digno de Vós como, muito mais, desejo ser Vosso e como Vós. Aceitai meu ser com tudo o que lhe é próprio, meus bens materiais e sobrenaturais, de agora e do futuro. Tudo Vos entrego, Senhor! E que corresponda eu às múltiplas graças que receberei durante este elevado exercício de piedade. Convertei-me, atraí-me inteiramente a Vós.
Para isto eu Vos peço a intercessão da Virgem Dolorosa. Que Ela me cubra com seu maternal manto, auxiliando-me a unir-me a Vós e também a abraçar a minha cruz. Amém.
I ESTAÇÃO
JESUS É CONDENADO À MORTE
V/. Nós Vos adoramos, ó Cristo, e Vos bendizemos.
R/. Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Leitura:
Pilatos tornou a entrar no pretório, chamou Jesus e disse-Lhe: “Tu és o rei dos judeus?” Jesus respondeu-lhe: “É por ti mesmo que dizes isso, ou disseram-to outros de Mim?” Pilatos respondeu: “Porventura sou eu judeu? A Tua nação e os sumos sacerdotes é que Te entregaram a mim: Que fizeste?” Jesus respondeu: “O Meu Reino não é deste mundo: se o Meu Reino fosse deste mundo, pelejariam os Meus servos, para que Eu não fosse entregue aos judeus; mas o Meu Reino não é daqui”. Disse-lhe Pilatos: “Logo Tu és rei?” Jesus retorquiu: “Tu o dizes! Eu sou Rei! Para isto nasci, e para isto vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a Minha voz” (Jo 18,33-37).
Pilatos viu que nada adiantava, mas que, ao contrário, o tumulto crescia. Fez com que lhe trouxessem água, lavou as mãos diante do povo e disse: “Sou inocente do sangue deste homem. Isto é lá convosco!” E todo o povo respondeu: “Caia sobre nós o seu sangue e sobre nossos filhos!” Libertou então Barrabás, mandou açoitar Jesus e lho entregou para ser crucificado (Mt 27,24-26).
Meditação:
Jesus não nega Sua condição de Rei, nem sequer descarta a hipótese de estender a toda terra Seu império. Ao afirmar não ser o Seu reino deste mundo, não deixa de querer ser o rei de nossos corações. Ele irá Se entregar nas mãos dos carrascos por amor a nós; neste momento de Sua prisão, não devemos oferecer-Lhe nossos corações?
Jesus, Rei de meu coração, significa submeter-Lhe minha vontade, meu querer. Eu não devo estimar nada nem a ninguém, acima de Jesus. Para Ele, toda minha admiração e fervor.
Não quero ser neutro face a esse profundo desejo de Jesus. Essa foi a grande falta cometida por Pilatos: a neutralidade diante de um apelo divino e de uma criminosa acusação. Se eu não entregar meu coração a Jesus, já na primeira Estação desta Via Sacra, no momento de Sua prisão, eu serei outro Pilatos: “Fez com que lhe trouxessem água, lavou as mãos diante do povo e disse: ‘sou inocente do sangue deste homem. Isto é lá convosco!’ E todo o povo respondeu: ‘caia sobe nós o seu sangue e sobre nossos filhos!’ Libertou então Barrabás, mandou açoitar Jesus e Lho entregou para ser crucificado” (Mt 27,24-26).
Jesus está a implorar meu coração neste passo da Paixão, Ele quer a minha santificação.
(Breve pausa para reflexão)
Oração:
Ó meu adorável Jesus, comove-me ver-Vos preso, condenado à morte e considerado como inferior a Barrabás. Vejo o enorme peso de meus pecados no ódio dos que Vos rejeitam. Aceitai, Senhor, meu pobre coração e assumi-o como Rei e Senhor absoluto. Estou seguro de que se assim o fizerdes, jamais Vos ofenderei.
Pai-Nosso, Ave-Maria, Glória
V/. Sagrado Coração de Jesus, vítima dos pecadores.
R/. Tende piedade de nós.
V/. Pela misericórdia de Deus descansem em paz as almas dos fiéis defuntos.
R/. Amém.
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II ESTAÇÃO
JESUS CARREGA A CRUZ ÀS COSTAS
V/. Nós Vos adoramos , ó Cristo, e Vos bendizemos.
R/. Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Leitura:
Levaram então consigo Jesus. Ele próprio carregava a Sua cruz para fora da cidade, em direção ao lugar chamado Calvário, em hebraico Gólgota (Jo 19,17).
Em verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos: e nós o reputávamos como um castigado, ferido por Deus e humilhado (Is 53,4).
Meditação:
Jamais um romano poderia ser condenado à morte de crucifixão, por ser símbolo máximo de desonra reservada aos piores criminosos. O sinal da vergonha por excelência foi abraçado por Jesus, “Ele próprio carregava a sua cruz...”
Bem se poderia ver naquela cruz a imagem de nossos pecados. “Quem pode, entretanto, ver as próprias faltas?” (Sl 18,13). Quem entenderá o pecado? Este é o pior de todos os males, o ato de maior oposição a Deus. Naquela cruz estavam todos os meus pecados. Entretanto, o Divino Redentor é Rei tão grandioso que transformará a cruz em objeto de elevada nobreza e distinção. Ela será colocada no alto das fachadas das igrejas, nas coroas dos reis e será a paixão dos santos.
Que devo eu oferecer a Jesus neste momento em que O vejo beijar a cruz?
(Breve pausa para reflexão)
Oração:
Ó Jesus meu! Ao ver-Vos ajoelhado para abraçar a cruz, lanço-me a Vossos pés contrito e humilhado. Quantas e inúmeras vezes Vos ofendi! Eu me transformei no horror do universo inteiro, em todas as ocasiões que pequei contra Vós. Perdão, Senhor, perdão! Consumi todas as minhas culpas na Vossa infinita misericórdia e transformai-as em mais uma coroa de Vossa glória.
Pai-Nosso, Ave-Maria, Glória
V/. Sagrado Coração de Jesus, vítima dos pecadores.
R/. Tende piedade de nós.
V/. Pela misericórdia de Deus descansem em paz as almas dos fiéis defuntos.
R/. Amém.
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JESUS CAI PELA PRIMEIRA VEZ
V/. Nós vos adoramos, ó Cristo, e Vos bendizemos.
R/. Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Mas ele foi castigado por nossos crimes, e esmagava por nossas iniqüidades. O castigo que nos salvou pesou sobre ele, e fomos curados graças às suas chagas (Is 53,5).
Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só; se morrer, produz muito fruto. Quem ama a sua vida, perdê-la-á; mas quem odeia a sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna (Jo 12,24-25).
Meditação:
Não era longo o caminho até o Calvário, mas Jesus ainda cairá duas vezes mais. O esgotamento produzido pela flagelação, sucedida da coroação de espinhos, a noite sem dormir... O peso de nossas ofensas O faz perder as forças.
Bem poderia negar-Se continuar Sua Via Sacra. Bastaria todo o ocorrido até aqui para justificar uma incapacidade de prosseguir. Mas, Ele deseja ensinar-nos a nunca desanimar. Neste passo, Ele demonstra estar disposto a nos reerguer de nossas quedas, por piores que sejam.
(Breve pausa para reflexão)
Oração:
Ó Jesus, castigado por meus crimes e esmagado por minhas infidelidades, quanto Vos adoro e Vos agradeço por quererdes reerguer-me de minhas quedas. Elevai-me desta situação em que me encontro, produzi em mim uma verdadeira conversão, para que eu retorne ao caminho de minha salvação e nunca desanime. Que eu deteste tudo aquilo que me separa de Vós, morra para o pecado e jamais desconfie do Vosso socorro.
Pai-Nosso, Ave-Maria, Glória.
V/. Sagrado Coração de Jesus, vítima dos pecadores.
R/. Tende piedade de nós.
V/. Pela misericórdia de Deus descansem em paz as almas dos fiéis defuntos.
R/. Amém.
V/. Nós vos adoramos, ó Cristo, e Vos bendizemos.
R/. Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Leitura:
Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: “Eis que este Menino está destinado a ser causa de queda e de soerguimento para muitos homens em Israel, e a ser um sinal que provocará contradições, a fim de serem revelados os pensamentos de muitos corações. E uma espada transpassará a tua alma” (Lc 2,34-35).
Ó vós todos, que passais pelo caminho: olhai e julgai se existe dor igual à dor que me atormenta (Lm 1,12).
Meditação:
“Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração” (Lc 2,51). Devia Ela lembrar-se com exatidão das palavras do Arcanjo São Gabriel durante a Anunciação: “Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus Lhe dará o trono de Seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó, e o Seu reino não terá fim” (Lc 1,32-33).
“Mas como seriam esse trono e esse reino – deveria penar Ela – se meu Filho é uma só chaga da cabeça aos pés, sem forças sob o peso da Cruz?”
Maria, por sua sabedoria, conhecia profundamente a imensa gravidade do pecado. Mas seria necessário levar as coisas a esse ponto? Quem poderia imaginar cena mais trágica? Uma espada de dor penetrou sua alma puríssima e ali depositou um sofrimento lancinante.
(Breve pausa para reflexão)
Oração:
Ó Virgem Dolorosa, perdão! Perdão pela grande culpa que tenho neste passo da Paixão. Reconheço as minhas faltas e Vos agradeço por Vos terdes associado aos tormentos de Vosso Divino Filho para me redimir. Ó celeste Co-redentora, invoco essa sagrada troca de olhares entre Mãe e Filho, em circunstâncias tão dramáticas, para implorar perdão. Somando o amor de todos os anjos e santos até o fim do mundo, em nada se compararia ao amor de um Deus a Sua Mãe, ou ao da Mãe a seu Filho Deus. Bastaria essa relação de olhares para restaurar minha inocência perdida. É o momento, ó Maria Santíssima: restaurai-me em minha inocência!
Pai-Nosso, Ave-Maria, Glória.
V/. Sagrado Coração de Jesus, vítima dos pecadores.
R/. Tende piedade de nós.
V/. Pela misericórdia de Deus descansem em paz as almas dos fiéis defuntos.
R/. Amém.
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V/. Nós vos adoramos, ó Cristo, e Vos bendizemos.
R/. Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Esperei em vão quem tivesse compaixão de mim, quem me consolasse e não encontrei (Sl 68, 21).
Depois de terem escarnecido dEle, tiraram-Lhe a púrpura, deram-Lhe de novo as vestes e conduziram-No fora para o crucificar. Passava por ali certo homem de Cirene, chamado Simão, que vinha do campo, pai de Alexandre e de Rufo, e obrigaram-no que lhe levasse a cruz (Mc 15, 20-21).
Meditação:
Aí está diante de nossos olhos o Criador do universo já quase sem fôlego e sem forças. Receiam os soldados romanos que venha a morrer o Divino condenado, antes mesmo de chegarem ao Gólgota. É urgente encontrar alguém que O auxilie a terminar o percurso. Quem poderia ser? Pois ajudar a carregar aquele objeto de infâmia – a cruz – era ocasião para toda espécie de humilhações.
O centurião que comandava os soldados romanos vê Simão. Quem era ele? Sabe-se somente que era de Cirene, que vinha do campo e que era pai de Alexandre e Rufo. Quase um anônimo. Embora tenha sido obrigado a levar a cruz com Jesus, de alguma forma cooperou com a obra de Redenção.
Oh! exemplo extraordinário para mim! Mesmo sendo inocente – se assim o for, tanto melhor – e muito mais se eu for pecador, devo lembrar-me das palavras do Divino Mestre: “Quem não toma a sua cruz e não Me segue, não é digno de Mim” (Mt 10,38).
É indispensável eu tomar a minha cruz, ou seja, aquela responsabilidade, aquela humilhação, a cruz da honestidade e da retidão de consciência, da prática da virtude. É preciso que eu seja perfeito.
A minha via é a de Jesus. É necessário eu sofrer e morrer com Ele para, depois, com Ele ressuscitar. É pela cruz que se chega à luz.
(Breve pausa para reflexão)
Oração:
Ó Jesus que neste passo de Vossa Paixão pedis a minha ajuda, aqui estou para Vos servir, Senhor! Com o auxílio de Vossa graça, estou disposto a enfrentar a opinião dos outros e levar ao alto o estandarte da prática da virtude. Quero seguir-Vos com minha cruz. Ajudai-me a ajudar-Vos, Senhor, e que eu jamais Vos ofenda pela covardia diante das risotas dos outros. Que Vossos mandamentos sejam minha lei e a minha vida. Quero carregar minha cruz e seguir-Vos.
Pai-Nosso, Ave-Maria, Glória.
V/. Sagrado Coração de Jesus, vítima dos pecadores.
R/. Tende piedade de nós.
V/. Pela misericórdia de Deus descansem em paz as almas dos fiéis defuntos.
R/. Amém.
V/. Nós vos adoramos, ó Cristo, e Vos bendizemos.
R/. Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Leitura:
Aos que me feriam, apresentei as espáduas, e as faces àqueles que me arrancavam a barba; não desviei o rosto dos ultrajes e dos escarros. Mas o Senhor Deus vem em meu auxílio; eis por que não me senti desonrado (Is 50, 6-7).
Fazei brilhar sobre nós, Senhor, a luz de Vossa face. Confiado na Vossa justiça, eu contemplarei a Vossa face; ao despertar, saciar-me-ei com a visão de Vossa imagem (Sl 4,7; 16,15).
Meditação:
Gesto comovedor! Quanto eu gostaria de ter feito o mesmo: enxugar o rosto de Jesus. Sangue, suor e lágrimas de um Deus a rolarem pela Sagrada Face. Somente a memória dos que estavam ali presentes – e puderam contemplar a mais bela de todas as fisionomias, marcada pela mais aguda das dores – guardou aquela cena pungente. Homem como nós, também Ele é sensível a um gesto de afeto.
“Vera icona”, ou seja, verdadeira imagem. Esse é o significado do nome daquela que se compadeceu de Jesus e Lhe enxugou o rosto. Que lhe poderia oferecer Ele, naquele momento, em retribuição por tão distinta atitude? Sua verdadeira Face. Jesus quis deixar-nos esta preciosa mensagem: sempre que, de alguma forma, eu Lhe enxugar a Face, Sua fisionomia se estampará em minha alma, serei outro Cristo. Sim, “Christianus alter Christus”, o cristão é um outro Cristo.
Se, na vida de todos os dias, me empenhar em auxiliar o próximo a trilhar as vias do Evangelho, da Salvação, a face de Cristo se fixará em meu espírito, eu me tornarei semelhante a Ele. Pois o amor torna aquele que ama semelhante ao objeto amado.
Neste trecho da Via-Sacra, Jesus e Verônica me convidam a imitá-los. Que em minha existência eu não perca uma só oportunidade de enxugar a Sagrada Face de Jesus, e assim possa apresentar-me no dia de meu juízo como um verdadeiro espelho da santidade dEle.
(Breve pausa para reflexão)
Oração:
Ó adorável e Sagrada Face de Jesus! Perdão por todos os meus egoísmos. Perdão por tanta dureza de coração. Quantas vezes eu não fui indiferente em relação ao Vosso sangue, suor e lágrimas! Quantos não Vos encontraram durante Vossa Paixão e pouco se importaram diante de Vossas dores! Não terei sido um destes, até o presente momento? Compreendo agora, por um auxílio de Vossa graça, o Vosso mandamento: “Amai-vos uns aos outros, como Eu vos tenho amado” (Jo 13, 34). Vós quereis de mim que eu seja atencioso com os necessitados de meu auxílio, bondoso para com os humildes, forte para com os orgulhosos. Estou disposto a proceder assim.
Ó diligente Verônica, ajudai-me a ser fiel neste chamado de Jesus. Que eu O imite a cada segundo em minha vida, e assim receba, em minha alma, a verdadeira imagem de nosso Redentor.
Pai-Nosso, Ave-Maria, Glória.
V/. Sagrado Coração de Jesus, vítima dos pecadores.
R/. Tende piedade de nós.
V/. Pela misericórdia de Deus descansem em paz as almas dos fiéis defuntos.
R/. Amém.
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JESUS CAI PELA SEGUNDA VEZ
V/. Nós vos adoramos, ó Cristo, e Vos bendizemos.
R/. Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Leitura:
Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, seguíamos cada qual nosso caminho; o Senhor fazia recair sobre ele o castigo das faltas de todos nós. Foi maltratado e resignou-se; não abriu a boca, como um cordeiro que se conduz ao matadouro, e uma ovelha muda nas mãos do tosquiador (Is 53, 6-7).
O Senhor torna firmes os passos do homem e aprova os seus caminhos. Ainda que caia, não ficará prostrado, porque o Senhor o sustenta pela mão (Sl 36, 23-24).
Meditação:
Suas forças vão enfraquecendo a cada passo e, apesar do auxílio do Cireneu, a cruz vai se tornando esmagadora. Quem, ao cair pela segunda vez naquelas circunstâncias, não se deixaria permanecer no solo? Teria chegado a oportunidade para desistir. Como eram suaves aquelas pedras do caminho em comparação com os sofrimentos que ainda viriam pela frente.
Ademais, quis Jesus mostrar-nos qual deve ser a extensão de nossa confiança, mesmo quando recaímos em nossas faltas. O Salvador está sempre disposto a nos perdoar e para isto é fundamental nunca desanimarmos. Tendo Ele assumido nossas culpas, jamais deixará de nos reerguer. Duvidar da misericórdia infinita de Deus, tão desejoso de nos perdoar e salvar, é uma ofensa ainda pior do que o próprio pecado, segundo ensina Santo Agostinho.
(Breve pausa para reflexão)
Oração:
Uma segunda queda, Ó Jesus! Vejo bem o quanto Vos pesam os meus crimes. As pedras do caminho são meus crimes. Certamente elas Vos prestaram algum apoio nesta aflição. Se elas fossem dotadas de inteligência e vontade, começariam a soluçar de compaixão por acompanharem de perto Vossos passos.
Ah, Senhor Jesus, compadecei-Vos de minha pobre alma! Tocai-a com a Vossa graça, concedendo-lhe uma viva experiência de Vossa dor. Que jamais eu me deixe levar pelo desânimo.
Pelos infinitos méritos dessa Vossa segunda queda, confirmai-me na Vossa graça, por Maria Santíssima eu Vo-lo imploro.
Pai-Nosso, Ave-Maria, Glória.
V/. Sagrado Coração de Jesus, vítima dos pecadores.
R/. Tende piedade de nós.
V/. Pela misericórdia de Deus descansem em paz as almas dos fiéis defuntos.
R/. Amém.
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VIII ESTAÇÃO
JESUS CONSOLA AS FILHAS DE JERUSALÉM
V/. Nós vos adoramos, ó Cristo, e Vos bendizemos.
R/. Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Leitura:
Seguia-O uma grande multidão de povo e de mulheres que batiam no peito e O lamentavam. Voltando-Se para elas, Jesus disse: “Filhas de Jerusalém, não choreis sobre Mim, mas chorai sobre vós mesmas e sobre vossos filhos. Porque virão dias em que se dirá: Felizes as estéreis, os ventres que não geraram e os peitos que não amamentaram! Então dirão aos montes: Caí sobre nós! E aos outeiros: Cobri-nos! Porque, se eles fazem isto ao lenho verde, que acontecerá ao seco?” (Lc 23, 27-31).
Meditação:
Em Sua Via Sacra, rumo ao Calvário, uma grande multidão seguia Jesus. Porém, nem todos eram bons. Ali estavam, aqueles que haviam pedido Sua morte, ansiosos por assistirem a Seu último suspiro. Não se pode descartar a hipótese da presença de alguns homens bons e aflitos com o enorme crime que diante de seus olhos se desenrolava. Mas, também eles se mantinham na mesma inação covarde que levara os Apóstolos a abandonarem o Divino Mestre.
Somente as mulheres “batiam no peito e O lamentavam”. São elas mais sensíveis à contrição, à penitência e à compaixão. Sua comovida piedade as levava a sofrer com Jesus, o Bom Pastor, que havia feito o bem até com Sua sombra, por todos os lugares onde passara. Quantos beneficiados por Ele não estariam em meio à multidão...
Entretanto, a sentença já havia sido decretada. Os soldados romanos não tinham outra alternativa senão a de executá-la, e com a crueldade tão comum e freqüente com que eram tratados os prisioneiros naqueles tempos.
“... Se eles fazem isto ao lenho verde” – Jesus, a Inocência e a Santidade, com brutalidade máxima era conduzido pelos soldados romanos. “Que acontecerá ao lenho seco?” – qual seria a violência a ser empregada num futuro não muito distante, pelos mesmos romanos, contra o povo ali representado? A responsabilidade pelo pecado de deicídio pesava sobre todos, e por isso Jesus profetizou o castigo que cairia sobre os habitantes daquela cidade: “chorai sobre vós mesmas e sobre vossos filhos”.
Jesus, embora mergulhado nos tormentos da Paixão, caminhava para o triunfo do cumprimento de Sua missão. Seus sofrimentos eram uma nova coroa de glória, e por isso afirmou: “não choreis sobre Mim”. Na sua infinita justiça, Jesus advertia as mulheres da necessidade de repararem o pecado coletivo. Não bastava comoverem-se com a tragédia de um Deus injustiçado. Era indispensável aplacar a cólera divina contra a nação, pelo crime cometido.
(Breve pausa para reflexão)
Oração:
Ó Jesus, Senhor da Justiça que a todo bem premiais e a todo mal castigais, dai-me a graça de ter plena consciência de minhas loucuras, crimes e pecados, a fim de pedir-Vos perdão com sinceridade. Quanto mais profundamente eu reconhecer minhas faltas, melhor será meu arrependimento e ampla será a Vossa absolvição. Vejo agora com toda clareza o quanto tinha razão Santo Agostinho ao afirmar serem os pecados coletivos castigados nesta terra. Compreendo quanto devemos repará-los a fim de se evitar a santa ira de Deus.
Não quero deixar de Vos confessar, Senhor, todo o horror que penetrou em minha alma diante de tanta covardia. Ninguém para Vos defender! Dai-me, Senhor, a graça de jamais ter vergonha de defender Vossa honra. E Vos peço perdão por todas as minhas infidelidades nesta matéria.
Pai-Nosso, Ave-Maria, Glória.
V/. Sagrado Coração de Jesus, vítima dos pecadores.
R/. Tende piedade de nós.
V/. Pela misericórdia de Deus descansem em paz as almas dos fiéis defuntos.
R/. Amém.
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IX ESTAÇÃO
JESUS CAI PELA TERCEIRA VEZ
V/. Nós vos adoramos, ó Cristo, e Vos bendizemos.
R/. Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Leitura:
Mas aprouve ao Senhor esmaga-lo pelo sofrimento. Era desprezado, era a escória da humanidade, homem das dores, experimentado nos padecimentos. Como aqueles diante dos quais se cobre o rosto, era amaldiçoado e não fazíamos caso dele (Is 53, 2,10).
Também Cristo padeceu por vós, deixando-vos exemplo para que sigais os Seus passos. Carregou os nossos pecados em Seu corpo sobre o madeiro para que, mortos aos nossos pecados, vivamos para a justiça (I Pe 2, 21,24).
Meditação:
“Eu sou a luz do mundo; aquele que Me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12).
Aí está, diante de meus olhos e sob o peso da cruz, a luz do mundo caída ao chão pela terceira vez. Cruz essa, símbolo de meus pecados, banhada já pelo preciosíssimo e adorável Sangue do Redentor.
Várias incógnitas cercam essa terceira queda de Jesus. De que apoio servia o Cireneu para carregar a Cruz? Por que não tomou ele sobre seus ombros a parte mais pesada? Se os soldados haviam já decidido convocar compulsoriamente o Cireneu, não lhes faltava compreensão para perceber o estado de esgotamento de sua vítima. Por que lhe exigem continuar a caminhada?
Uma vez mais, imagem de nossa miséria. Assim somos nós. Os nossos melhores atos de virtude vêm sempre embebidos das falhas que tanto atormentam a delicada e sensível consciência dos santos. “Afinal, não pecarei mais”, foi o último gemido lançado por São Luís Grignion de Montfort, antes de expirar. Por isso me pergunto diante desta cena: se eu fosse o Cireneu, teria procedido de outra forma? Quantas e quantas vezes não fui relaxado no cumprimento de meus deveres, na prática da virtude, no evitar as ocasiões que me levam ao pecado... Como estou longe da perfeição, deixando Jesus ser quase esmagado sob o peso da Cruz, sem me preocupar em ajudá-Lo!
Por outro lado, Jesus me repete: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6). Ele me dá o divino exemplo: não devo me apoiar nas inconsistentes promessas humanas; só no sobrenatural está o meu amparo e proteção. Nem o ressentimento pode ser a minha lei. Se me abandonam ou me perseguem, e caio sob o madeiro das decepções, jamais o desânimo me abaterá, desde que siga o exemplo de meu Divino Mestre: retomar a cruz e chegar ao fim.
Sempre há mais para dar, mesmo quando o fôlego parece já não existir. Essa é também umas das lições contidas nesta Estação.
(Breve pausa para reflexão)
Oração:
Ó meu Jesus, perdão! Perdão por sobrecarregar Vossos sagrados ombros com o peso de meus pecados. Como esgotam eles Vossas forças por causa de seu número e gravidade!
Perdão por ser relaxado no cumprimento de meu dever. Sei bem que não sendo perfeito como nosso Pai celeste é perfeito, torno ainda mais pesada a Vossa cruz. Sou eu também a causa desta Vossa terceira queda.
Eu Vos agradeço o exemplo de generosidade e entrega total que neste passo da Paixão me dais e Vos rogo graças eficazes para Vos servir continuamente com amor desinteressado e ânimo forte.
Pai-Nosso, Ave-Maria, Glória.
V/. Sagrado Coração de Jesus, vítima dos pecadores.
R/. Tende piedade de nós.
V/. Pela misericórdia de Deus descansem em paz as almas dos fiéis defuntos.
R/. Amém.
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X ESTAÇÃO
JESUS É DESPOJADO DE SUAS VESTES
V/. Nós vos adoramos, ó Cristo, e Vos bendizemos.
R/. Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Leitura:
Tomaram as Suas vestes e fizeram dela quatro partes, uma para cada soldado. A túnica, porém, toda tecida de alto a baixo, não tinha costura. Disseram, pois, uns aos outros: “Não a rasguemos, mas deitemos sorte sobre ela para ver de quem será”. Assim se cumpria a Escritura: Repartiram entre si as Minhas vestes e deitaram sorte sobre minha túnica (Jo 19, 23-24).
Meditação:
Quem poderia imaginar tão grande humilhação? Jesus, o próprio criador do pudor e deste dotado no grau mais perfeito, é despojado de Suas vestes diante de toda aquela gente. Talvez para reparar a imoralidade e falta de modéstia dos trajes de épocas futuras. De modas que receberiam a grave censura de Nossa Senhora em Fátima.
Quatro soldados disputaram a pouca herança da Divina Vítima. A pobreza dAquele Deus era tal que, à hora de Sua morte, não Lhe restava senão a roupa com a qual estava vestido. Nova lição para mim, que sou dominado pela mania de juntar tesouros neste mundo.
Sobre a túnica decidiram jogar a sorte, por concluírem os soldados tratar-se de uma peça de elevado valor, pois não tinha uma só costura de alto a baixo. Era tecida com arte requintada. Quem a fizera? Maria Santíssima, Sua Mãe! A missão salvífica e universal de Jesus se representa assim neste passo, pois Ele, que era pobre, usava no entanto uma veste preciosa, simbolizando através desses extremos harmônicos que veio salvar pobres e ricos.
Quatro são os cantos da terra e em quatro se repartem os Seus pertences. É um belíssimo símbolo da expansão da mais alta das obras de Jesus, a Santa Igreja que tomaria conta da extensão do mundo.
Por outro lado, a Santa Igreja é simbolizada em sua unidade perfeita pela túnica sem costura. Ela reclama uma união total entre todos os seus fiéis, não comportando a menor divisão.
E qual o significado da sorte lançada sobre a túnica? É a figura da graça divina, segundo Santo Agostinho, pois os planos misteriosos de Deus estão muito acima dos méritos humanos. Tudo é decidido por Ele.
(Breve pausa para reflexão)
Oração:
Ó meu Jesus, mais uma vez, perdão! Qual não será a gravidade da minha culpa neste momento tão angustiante de Vossa Paixão? De quantas vezes me acusará minha consciência da falta de pudor? Não terei eu ofendido a modéstia, fazendo uso de trajes indignos de um cristão?
Perdão, Jesus! E ao mesmo tempo assisti-me com Vossa santa graça a fim de eu respeitar com delicadeza de consciência a Vossa Lei.
Que eu ame a unidade de Vossa Santa Igreja e batalhe por sua expansão no mundo inteiro, jamais fazendo acepção de pessoas nessa tarefa, para ajudar-Vos a salvar pobres, ricos, ou qualquer classe de almas.
Pai-Nosso, Ave-Maria, Glória.
V/. Sagrado Coração de Jesus, vítima dos pecadores.
R/. Tende piedade de nós.
V/. Pela misericórdia de Deus descansem em paz as almas dos fiéis defuntos.
R/. Amém.
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JESUS É PREGADO NA CRUZ
V/. Nós vos adoramos, ó Cristo, e Vos bendizemos.
R/. Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Leitura:
Chegados que foram ao lugar chamado Calvário, ali O crucificaram, como também os ladrões, um à direita e outro à esquerda. Pilatos redigiu uma inscrição e a fixou por cima da cruz. Nela estava escrito: “Jesus de Nazaré, rei dos judeus” (Lc 23, 33; Jo 19,19).
Junto à cruz de Jesus estavam de pé Sua mãe, a irmã de Sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. Quando Jesus viu Sua mãe e perto dEla o discípulo que amava, disse à Sua mãe: “Mulher, eis aí teu filho”. Depois disse ao discípulo: “Eis aí tua mãe”. E dessa hora em diante o discípulo A levou para a sua casa (Jo 19, 25-27).
Por fim chega Jesus ao Calvário, lugar onde, segundo uma piedosa e antiga tradição, Adão havia sido sepultado. Ali abundara o pecado, ali transbordaria a graça.
Crucificado! Aquela mesma cruz que tanto Lhe pesava sobre os ombros seria Seu instrumento de morte. Os braços abertos para atrair a Si a humanidade inteira, sem distinção de pessoas de qualquer espécie, conforme afirma S. João Crisóstomo. Já em estado pré-agônico, enormes cravos perfuram Suas sagradas mãos e divinos pés, levando-O a contorcer-Se de dores.
O requinte de maldade de seus acusadores chega ao ponto de O crucificarem entre dois ladrões para ser considerado também como tal.
E Pilatos, como bom representante de todos os que procuram tomar uma posição de neutralidade entre o Bem e o Mal, ao mesmo tempo em que condenava à morte Jesus, quis reconhecer sua realeza sobre o povo que exigia a crucifixão dEle. Terminava assim, de “lavar” as mãos do sangue do Inocente.
Ao pé da cruz, enquanto os soldados repartiam entre si os haveres materiais do Divino Crucificado, Ele entregava Sua preciosa herança – Maria Santíssima – ao discípulo amado, num último e supremo gesto de amor filial. Também ali estavam as Santas Mulheres, dignas de admiração por sua corajosa determinação de permanecer junto à cruz, os olhos postos no Salvador, insensíveis ao ódio dos fariseus que pusera em fuga os Apóstolos. Mas, exemplo sem igual nos dá a Mãe de Deus, como lembra Teófilo: “Imitai, ó mães piedosas, esta que tão heróico exemplo deu de amor maternal a seu amantíssimo Filho único; porque nem vós tereis mais carinhosos filhos, nem esperava a Virgem o consolo de poder ter outro”.
(Breve pausa para reflexão)
Eu Vos dou graças, Ó Jesus meu! Reconstituo, nesta meditação, o drama da loucura de amor de um Deus por Suas criaturas. Se fosse eu o único a haver pecado, Vosso procedimento não teria sido outro. Por isso, afirmo com toda certeza: Vós fostes crucificado por mim. Nada faltou para Vos fazer sofrer até o extremo da dor.
Que Vossa crucifixão arranque de minha alma os caprichos e os vícios que me desviam de Vós. Quantos apegos, quantas paixões, quantos delírios... Concedei-me as mesmas graças derramadas sobre o bom ladrão e possa eu, assim, um dia estar convosco no Paraíso.
Que eu escolha sempre a posição do Bem e jamais siga as vias de Pilatos.
Em relação àqueles que são meus, jamais tenha eu um amor egoísta, impedindo-os de cumprirem sua vocação.
Pai-Nosso, Ave-Maria, Glória.
V/. Sagrado Coração de Jesus, vítima dos pecadores.
R/. Tende piedade de nós.
V/. Pela misericórdia de Deus descansem em paz as almas dos fiéis defuntos.
R/. Amém.
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XII ESTAÇÃO
JESUS MORRE NA CRUZ
V/. Nós vos adoramos, ó Cristo, e Vos bendizemos.
R/. Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Leitura:
Vieram os soldados e quebraram as pernas do primeiro e do outro que com Ele foram crucificados. Chegando, porém, a Jesus, como O viessem já morto, não Lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados abriu-Lhe o lado com uma lança e imediatamente saiu sangue e água (Jo 19, 28-30; 32-34).
Meditação:
Jesus é a Sabedoria de Deus encarnada. Tudo nEle acontece por altíssimas razões. Por isso diz o Evangelista: “Sabendo Jesus que tudo estava consumado”, ou seja, naquela hora extrema, Jesus ia conferindo os fatos com as profecias e ao verificar a ausência de um detalhe “para se cumprir plenamente a Escritura, disse: ‘Tenho sede’”. Se faltassem provas para demonstrar Sua divindade, esta seria uma: a extrema superioridade de espírito com que vivia todos os episódios da Paixão.
Afirma Santo Agostinho que o vinagre simboliza o vinho dos patriarcas e dos profetas que se azedara em seus descendentes. “Um vaso cheio de vinagre”, ou seja, um coração cheio de maldade.
“Inclinou a cabeça e rendeu o espírito”. A este respeito afirma Santo Agostinho: “Quem pode dormir quando quer, como Jesus morreu quando quis?” E no mesmo sentido, lemos em São João Crisóstomo: “Por Seus atos indica o Evangelista que Ele era Senhor de todas as coisas”.
“Saiu sangue e água”, que simbolizam os Sacramentos da Igreja, indispensáveis para nossa salvação. São João emprega o verbo “abrir” para significar a abertura da porta da qual nasceria a Santa Igreja. “Por esta razão – diz Santo Agostinho – foi formada a primeira mulher da costela de Adão adormecido, e este segundo Adão (Jesus), inclinando a cabeça, dormia na cruz, para que fosse fundada Sua esposa (a Igreja) e nascesse de Sua costela durante o sono. Oh, morte que os mortos ressuscitas! Que há mais puro do que este sangue? E mais saudável do que esta ferida?”
(Breve pausa para reflexão)
Oração:
Ó meu Jesus, prova de maior amor não há! Vós destes Vossa preciosíssima vida por mim! E que Vos devo dar eu? Que poderia receber de mais grandioso? Pensar que esse mesmo sacrifício se renova todos os dias sobre o altar, de forma incruenta, podendo me beneficiar dele totalmente! Ah, Senhor, aceitai meu pobre ser, meu corpo, minha alma, meus parentes, tudo o que me pertence agora e no futuro, até os meus méritos. Tudo é Vosso, Senhor, e a Vós entrego em retribuição, por meio de Maria Santíssima.
Vós me ensinais neste passo o quanto devo agir com equilíbrio, dominando minhas paixões em todas as circunstâncias da vida. Nenhuma impaciência, febricitação ou nervosismo. Sempre Vos tomarei como exemplo, cofiando mais e mais no poder de Vossa graça.
Alma de Cristo, santifica-me.
Corpo de Cristo, salvai-me.
Sangue de Cristo, inebriai-me.
Água do lado de Cristo, lavai-me.
Paixão de Cristo, confortai-me.
Ó bom Jesus, ouvi-me.
Dentro de vossas chagas, escondei-me.
Não permitais que de Vós me separe.
Do espírito maligno, defendei-me.
Na hora de minha morte, chamai-me.
E mandai-me ir para Vós.
Para que Vos louve com vossos santos,
Por todos os séculos dos séculos. Amém.
Pai-Nosso, Ave-Maria, Glória.
V/. Sagrado Coração de Jesus, vítima dos pecadores.
R/. Tende piedade de nós.
V/. Pela misericórdia de Deus descansem em paz as almas dos fiéis defuntos.
R/. Amém.
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XIII ESTAÇÃO
JESUS É DESCIDO DA CRUZ
V/. Nós vos adoramos, ó Cristo, e Vos bendizemos.
R/. Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Leitura:
Meditação:
E por onde andavam os doze Apóstolos? Por que não foram adorar o Corpo de Jesus, antes de ser sepultado? Se a razão era o temor, não poucas justificativas deveria ter José de Arimatéia, pois “era discípulo de Jesus, mas ocultamente, por medo dos judeus”.
A Providência traça com perfeição as linhas da História. José de Arimatéia, além de ser nobre, era muito relacionado com Poncio Pilatos, reunindo portanto as condições favoráveis para dele obter a autorização necessária para que Jesus não fosse enterrado como um condenado qualquer, mas sim como uma pessoa ilustre. Quem, a não ser José, teria coragem de se apresentar ao governador romano para lhe pedir o corpo de um crucificado? Por isso, a respeito dele comenta São João Crisóstomo: “Veja-se o valor deste amor: põe-se em perigo de morte atraindo sobre si as inimizades de todos, por seu afeto a Jesus Cristo...”
Que graça única destes a este José! A de poder descer da cruz, com o auxílio de Nicodemos, o Divino Corpo de Jesus. Por respeito, ou por outras razões ainda mais elevadas, o Evangelho não descreve as dores da Mãe de Deus nesta hora tão dramática, Ela, que conferia e guardava no coração todos os acontecimentos! Como teria recebido em seus braços Aquele corpo inanimado, todo ferido e ensangüentado?
O Evangelista faz notar nem o fato de terem seguido, no sepultamento, o ritual costumeiro. Tudo conduzia à mais alta simbologia: os panos eram de linho, não de seda, nem bordados a ouro; e o linho só depois de muito alvejado se torna branco. “Significa que o corpo dAquele que foi tomado da terra (isto é, da Virgem) pelo trabalho da Paixão, chegou ao candor da imortalidade”, diz São Jerônimo. É esta a razão pela qual a Santa Igreja não celebra o Santo Sacrifício do Altar sobre seda ou qualquer outro tecido, por mais rico que seja, mas sobre linho branco.
(Breve pausa para reflexão)
Oração:
Ó Sagrado Corpo de Jesus, Vós Vos encontrais separado de Vossa Santíssima alma, mas ainda unido à Divindade e, portanto, absolutamente adorável. Vendo-Vos assim sem vida, sinto meu coração gemer. Essas mãos que restituíram a Malco a orelha cortada, deram ordens aos mares e às tempestades, expulsaram os vendilhões do Templo, fizeram o bem por todo Israel, já não se articulam. Vossos pés que caminharam sobre as águas e cruzaram todas as distâncias de Vossa nação em busca dos necessitados, não se movem. Vossa voz que fazia estremecer os fariseus, mas perdoava com doçura os pecadores arrependidos e arrancou de seu túmulo a Lázaro ressurrecto, já não se faz ouvir. Vosso olhar que santificou Pedro, agora é vítreo. Uma só chaga Vos cobre de alto a baixo.
Ó Virgem Dolorosa, eu Vos imploro a insigne graça de manter diante de mim, pelo resto de minha vida, essa terrível imagem da gravidade do pecado. Se houvesse eu cometido um só pecado e fosse o único em todo o gênero humano, aí estaríeis Vós com esse Corpo sagrado em Vossos virginais braços, por minha causa. Perdão, minha Mãe, perdão! E ajudai-me a nunca mais pecar!
Pai-Nosso, Ave-Maria, Glória.
V/. Sagrado Coração de Jesus, vítima dos pecadores.
R/. Tende piedade de nós.
V/. Pela misericórdia de Deus descansem em paz as almas dos fiéis defuntos.
R/. Amém.
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XIV ESTAÇÃO
JESUS É SEPULTADO
V/. Nós vos adoramos, ó Cristo, e Vos bendizemos.
R/. Porque pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Leitura:
No lugar em que Ele foi crucificado havia um jardim, e no jardim um sepulcro novo, em que ninguém ainda fora depositado. Foi ali que depositaram Jesus por causa da Preparação dos judeus e da proximidade do túmulo. Depois (José de Arimatéia) rolou uma grande pedra à entrada do sepulcro e foi-se embora. Maria Madalena e outra Maria ficaram lá, sentadas defronte do túmulo (Jo 19, 41-42; Mt 27, 60-61).
Meditação:
Maria deu a luz um único Filho. Seu claustro materno não foi habitado por mais ninguém, a não ser Jesus. Assim também o Santo Sepulcro. O tempo avançava, eram demoradas as diligências para obterem a permissão de Pilatos, descer da cruz o Corpo sagrado do Senhor não era operação rápida, todas as circunstâncias favoreceram a escolha de um túmulo nas proximidades. Sepulcro virgem, pois nem antes, nem depois, algum outro nele fora sepultado.
“Mais uma vez os acontecimentos são conduzidos pela Sabedoria de Deus. Evitou-se assim qualquer sombra de dúvida sobre a Ressurreição. Foi Jesus que ressuscitou e não o cadáver de qualquer outra pessoa. E dada a proximidade do Sepulcro, tornou-se mais fácil comprovar, tanto pelos discípulos quanto pelos soldados romanos postos ali pelos fariseus, a falsidade da suposição do roubo de Seu Corpo.
“O Salvador foi depositado num túmulo que não era o Seu, dando assim a conhecer que morria pela salvação dos outros; por que haveria de ser colocado num sepulcro próprio Quem não havia morrido por Si? Por que haveria de ter túmulo na terra Aquele cujo trono permanecia no Céu? Por que haveria de ter sepultura própria Quem não esteve no sepulcro mais do que três dias, não como morto, mas como que descansando num leito? O sepulcro é a habitação da morte; não era necessário, portanto, que Cristo, que era a vida, tivesse habitação de morte; nem necessitava habitação de defunto Quem nunca morre” (Santo Agostinho).
Uma grande pedra nos separa, neste momento, do Corpo Sagrado de Jesus. Quem tivesse Fé, poderia adorar a Jesus em Corpo e Divindade presente no Sepulcro, e dEle se beneficiar recebendo graças concedidas diretamente pelo Salvador. Esse foi o grande consolo das Santas Mulheres.
“Depois que o Corpo do Senhor foi sepultado (os outros foram para casa) unicamente continuaram ali as mulheres, que mais O haviam amado...” (São Remígio).
“As mulheres perseveraram em seu dever, esperando o que Jesus havia prometido; por esta razão mereceram ser as primeiras que viram a Ressurreição, porque ‘quem persevera até o fim, se salvará’” (São Jerônimo).
Felizes as Santas Mulheres! Mais felizes ainda somos nós, pois temos a Jesus em Corpo, Sangue, Alma e Divindade na Eucaristia. Nela nós O adoramos, não com “uma grande lápide” de permeio, mas tão somente através dos véus das Sagradas Espécies e da custódia.
(Breve pausa para reflexão)
Oração:
Ó meu Jesus morto e sepultado, aqui me encontro eu, em companhia das Santas Mulheres para Vos adorar. Com elas Vos peço a graça de jamais me separar de Vós e, permanecendo assim unido habitualmente a Vós por um dom sobrenatural, possa com São Paulo afirmar: “já não sou eu que vivo, é Cristo Jesus que vive em mim” (Gal 2, 20).
Sim, Vós sois morto e colocado num túmulo para que eu tenha vida e de maneira superabundante. Que a vida neste transe, afastada de Vós, penetre no mais fundo de minha alma, a ponto de participar do Vosso próprio poder: “Tudo posso nAquele que me conforta” (Flp 4,13).
A Vós, ó Virgem, recorro a fim de que me obtenhais de Jesus sepultado, a confirmação na graça de Deus para, um dia, seguindo os Vossos caminhos e os dEle, possa eu ressuscitar para a glória.
Pai-Nosso, Ave-Maria, Glória.
V/. Sagrado Coração de Jesus, vítima dos pecadores.
R/. Tende piedade de nós.
V/. Pela misericórdia de Deus descansem em paz as almas dos fiéis defuntos.
R/. Amém.
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ORAÇÃO FINAL
Ó Virgem Dolorosa, ao terminar este exercício de piedade tão elevado e proveitoso para minha pobre alma, meus olhos se voltam para Vós. Ao longo de cada passo desta Via Sacra fui favorecido por Vossa maternal ajuda; todos os meus bons movimentos interiores tiveram em Vossa bondade a sua causa. Virtudes e dons desabrocharam em meu espírito por iniciativa e mediação de Vossa misericórdia.
Vêm-se à lembrança, neste momento, as aflições afloradas em Vosso Sapiencial e Imaculado Coração, ao ouvirdes as palavras do velho Simeão, ou mesmo ao perderdes Jesus Menino no Templo. Preparações e prefiguras da divina tragédia que agora se encerra nesta meditação. Uma espada de dor transpassou Vosso Coração, Jesus está morto e sepultado.
Entretanto, por um privilégio todo especial, Jesus Hóstia permaneceu em Vosso claustro interior, durante todo o tempo da Paixão. Sim, após terdes comungado durante a Santa Ceia, as Sagradas Espécies não se deterioraram em Vós. Desde aquele momento, o dom da permanência Eucarística Vos foi concedido.
Que Sagrado Mistério! Toda a Paixão de Jesus desenrolou-se em seus mínimos pormenores, no mais íntimo de Vosso puríssimo claustro materno. Por isso, quero adorar a Jesus desde Sua prisão no Horto das Oliveiras até Seu sepultamento, na Sagrada Eucaristia que se conservou em Vós. NEla se deu a Flagelação, a Coroação de Espinhos, a subida ao Calvário, a Crucifixão, Morte e Sepultamento. NEla a Divina Alma do Salvador se separou do adorável Corpo, mantendo-se sempre a união com a Divindade.
Em Vós, ó Virgem Dolorosa, recordo a síntese de todos os episódios por mim meditados. Que graças místicas não Vos devem ter sido concedidas em meio àquelas angústias! Graças de sentir em Si mesma as próprias dores do Redentor. Não é sem razão que, debaixo de certo ângulo, Vós podeis ser chamada de Co-redentora.
E é a Vós “que recorro e de Vós me valho, gemendo sob o peso de meus pecados”, na inabalável convicção de que “nunca se ouviu dizer que algum daqueles que têm recorrido à Vossa proteção, implorado Vossa assistência e reclamado Vosso socorro, fosse por Vós desamparado”. É a Vós que recorro, imploro e reclamo pelo perdão de meus pecados, pela minha salvação eterna e pela total santificação de minha alma.
E muito Vos peço ainda pela sociedade em geral, e pela própria Santa Igreja Católica Apostólica e Romana, para que cheguem à plenitude de seu esplendor e graça, e possa assim ser realizada a proclamação universal do triunfo de Vosso Imaculado Coração:
“Por fim Meu Imaculado Coração triunfará!” Amém.
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